3 de mai. de 2011

Cuidado Com o que Você Faz

Uma das coisas que tenho notado (e interessado) durante as sessões de RPG é o fato que que muitas de nossas ações terminam por elas mesmas, isto é, não se propagam, ou seja, a morte de um inimigo só resulta na morte por si própria, não é levado em conta se o inimigo tinha uma família, se ele tinha um trabalho, se realizava uma importante função na sociedade e coisas do tipo. Um bom mestre tem que levar isso em conta, para tanto, aqui vai um texto para que você possa refletir sobre o assunto:



O Universo possui um senso de humor interessante, fato que pode torná-lo a coisa mais engraçada jamais vista, ou um pesadelo existencial grande…bem grande. Pode ser um pesadelo existencial, porque uma ação sua, pode apenas fazer o ar ao seu redor vibrar um pouco, causando um pequeno incômodo em seu ouvido enquanto todo o resto continua a viver sua vida chata e massante. Por outro lado, pode ser a coisa mais engraçada jamais vista, porque essa sua mesma ação, pode acabar com sua relação estável com alguém, juntar um casal mais adiante que curiosamente dará inspiração a um publicitário que fará uma propaganda para juntar mais casais.

Observemos essa peculiaridade em uma escala menor, dois seres conversam em um ambiente casual onde existem vários outros seres se comunicando em baixo tom, esse dois seres conversam sobre algo banal quando um deles faz uma complexa associação sináptica e conclui que o assunto banal lhe fez lembrar de mostrar algo para o outro ser, o diálogo é mais ou menos assim:

  …é tenso isso de reiniciar, falando nisso eu me lembrei que tenho que te mostrar uma coisa.
      Ah, ok mostre-me – disse o outro ser
      Cuidado que é coisa boa hein? – alertou o primeiro ser.
      Bota para fora logo! – Disse o outro ser um pouco mais alto do que o tom no qual todos conversavam.

Nisso, um terceiro ser, que nada tinha com os dois outros seres que conversam, notou um movimento na mesa a sua frente ao ouvir: “Bota isso para fora logo!”. E decidiu que o que ouvira era bem mais interessante do que as notícias do dia em seu smartphone. No momento em que o terceiro ser decidiu prestar atenção no que os outros dois seres faziam, o segundo arregala os olhos, dá um passo para trás e exclama: Nossa! Que incrível! Estou excitado!

O ser do smartphone faz uma complexa associação sináptica e conclui que aquela situação está se tornando estranha…muito estranha. Por precaução e por uma pitada de espírito jornalístico, o ser prepara o seu smartphone para tirar uma foto a qualquer momento, se necessário.

 Após alguns segundos de surpresa, o primeiro ser diz:

- vamos lá, toque-o.

Instintivamente o segundo ser se inclina em direção ao primeiro diretamente proporcional ao arregalar de olhos do terceiro ser que já tem o smartphone a postos. A cena é mais ou menos assim:

Tomado de uma indignação, misturada com surpresa e empolgação, o terceiro ser imortaliza a cena em vários bytes no seu smartphone, sem que os dois seres notem. Catatônico com a situação, o terceiro ser publica a foto em seu blogue, com o seguinte comentário: “Putz! Depois disso, não tem como ficar pior”.

Alguns minutos depois essa foto receberia uns poucos 500 comentários e já estaria circulando por servidores tibetanos, mas isso não foi mais repentino do que a reação de um quarto homem que não fez presença até então, sentado do lado do terceiro homem e portanto sujeito ao mesmo ponto de vista de um ângulo um pouco diferente porem de mesmo efeito. O quarto homem levantou rapidamente derrubando o conteúdo de sua mesa no chão e gritou: POR TUDO O QUE É MAIS SAGRADO, FAÇAM ISSO EM CASA!!!!

Quando um jarro de flores caiu no chão se dividindo em fragmentos reluzentes e emitindo um ruído característico, todos olharam para o quarto ser que apontava para os dois primeiros seres que ficaram sem ação. A comoção gerou uma leve vibração no ar que chegou a um quinto ser muito distraído causando um incômodo em seus ouvidos.

Esse quinto ser, quando estava indo ao ambiente os outros seres conversam em um tom baixo, trombara acidentalmente com um sexto ser que agora estava localizado a quatro quadras distante em um apartamento, dentro do seu quarto, onde aguardava outros seres aparentemente relacionados para que juntos pudessem jogar RPG. Para passar o tempo, o sexto ser  visitava um blogue quando se deparou com uma foto legendada da seguinte maneira: “Putz! Depois disso, não tem como ficar pior!”. O Sexto ser fez uma complexa associação sináptica e conclui que: “é mesmo, não tem como ficar pior”.

Em uma escala maior, mal sabia o sexto ser, que sim, poderia ficar pior, pois nesse exato momento, uma fenda no espaço-tempo-descontínuo-probabilístico se abriu e parte da fala do garoto foi sugada através do tempo para uma época desconhecida. Aconteçe que um ser sem classificação numérica se equilibrava encima de uma ponte, refletindo sobre como a vida tem sido ruim para ele e como não mais iria lhe encher a paciência, esse ser também pensava em um outro ser o qual estavam em uma relação estável a muito tempo, mas que, por causa de uns papéis coloridos muito associados a felicidade, essa relação acabou.                                                    
Os pensamentos do ser da ponte estavam atingindo um profundidade imensurável, quando ele ouve um par de vozes vindas da beira do rio debaixo da ponte, as vozes vem de um casal trocando carícias. O ser pêncil, antes que pudesse processar o que acabara de ver, ouve uma voz ao longe dizendo: “é, tem como ficar pior”. O ser então fez uma complexa associação sináptica e concluiu que estava confuso, resolveu observar o casal que o tinha distraído e notou que ambos estavam fazendo alguma coisa com boca, isso fez o ser lembrar de que fez o mesmo com o ser que era o motivo para ele estar de pé na ponte e finalmente conclui que tudo ficara muito claro…saltou da ponte…direto no rio, espirrando agua no casal que começou a rir, voltando a fazer aquela coisa com a boca mais efusivamente.


Um outro ser que andava pelas mediações, observou a cena dos casais ensopados rindo e fazendo o gesto bucal, nisso ele fez uma complexa associação sináptica e conclui que o melhor remédio é o riso. Ele tentou espalhar para todo mundo sua descoberta, mas ninguém lhe deu ouvidos, esse ser no futuro iria casar-se infeliz, ter um filho igualmente infeliz, morar em um apartamento distante quatro quadras de um bar onde pessoas conversam em um tom baixo…infelizes.

Especialistas no par ação-reação, fizeram muitas e complexas associações sinápticas e concluiram que, no Universo, isso ocorre a todo instante, ou fazendo o ar vibrar causando um incômodo no ouvido alheio, ou decidindo toda uma história.


escrito por Artur Paes

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